quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Amarante



Ótima entrevista com o Amarante na revista Trip.



Abaixo os meus trechos preferidos!


“(...)Quando a gente lançou o Ventura eu ainda achava que ia desenvolver meu trabalho com gravuras, que hoje faço de onda mesmo. Minha carreira não parecia uma coisa séria, eu realmente não acreditava em nada. Era a fase que os astrólogos chamam de retorno de Saturno, quando você tem 27, 28 anos, e fica naquela maluquice, não sabe direito o que vai acontecer(...)”.



“(...)Acho que sorte é produto do pensamento, do sonho. Eu acho que o pensamento é uma forma de ação às vezes mais eficaz do que a fala. Porque a fala é pervertida demais. A gente fala pra tudo. A maior parte do dia, a gente passa falando qualquer coisa ou jogando conversa fora. E aí tem uns momentos de iluminação, de franqueza. Mas o pensamento é uma conversa interna, a gente é muito mais franco e muito mais contundente no pensamento. Então, eu só tenho a opção de acreditar que o pensamento tem um poder de ação muito incrível. E que o sonho, no sentido mais amplo, no sentido do desejo, no sentido do afeto e no sentido literal do sonho, de dormir e sonhar, eu só posso acreditar que isso tenha um papel fundamental na construção do destino, ou seja, no caos, no acaso. (...)”



[sobre ser famoso] “(...) É bem estranho. Mas a escala em que sou famoso é confortável, porque ninguém me enche o saco. Algumas pessoas vêm falar comigo, e pra mim é ótimo. Pô, eu fiz umas musiquinhas... vou na padaria e o cara diz: “Adoro sua música”. Legal! Então eu não me sinto famoso, me sinto reconhecido. Porque geralmente a pessoa que sabe quem eu sou conhece a banda, a minha música. Mas é esquisito mesmo. Às vezes alguém chega como se me conhecesse, e eu não sei porra nenhuma sobre a pessoa. (...)”



“(...)Por causa da exposição. Você está aqui me entrevistando, e para mim é um exercício de expressão que tem a sua violência. Me obriga a ter clareza, a fazer algum sentido, me obriga a ser aberto, mas não ser bobo. O fato de ser famoso me fez aprender a lidar com isso, a saber no que acredito e no que eu não acredito. Essa é uma reação da interação que tenho com as pes­soas, entendeu? Não posso acreditar quando um fã vem e diz que sou um gênio(...)”


“(...) O Renato Russo disse uma vez que achava que tinha tanta banda ruim porque a maioria delas tentava fazer música para tirar alguma coisa de alguém. Dinheiro, status ou fama. O melhor é você fazer música para dar. Você se junta com seus amigos, carrega amplificador, se esforça porque no fim você quer ver a pessoa na platéia se sentindo presenteada. Claro que do outro jeito também rola, mas a longo prazo e no coração das pessoas esse tipo de postura não sobrevive (...)”


“(...) sinto vontade de ficar [nos Estados Unidos] e sinto vontade de ir embora, por diferentes motivos. Então, como sei que o meu acaso tá recheado de sonho, meu destino tá recheado de sonho, vou seguir sonhando, entendeu? Porque a maior parte do que vai determinar o meu destino tá fora do meu alcance. Então eu continuo sonhando, ou seja, fazendo aquilo que sinto que é o melhor que posso fazer, que é aquilo de que eu gosto. E vou ver no que vai dar. A relação é mais com as pessoas do que com o lugar(...)”



“(...) aí pensei, “bom, no jornalismo vou ter a oportunidade de pesquisar o que eu quiser, vou poder me aprofundar em determinados temas...”. Aí a faculdade foi minando o meu tesão de forma aterrorizante. (...)”



“(...) [no jornalismo cultural] tem muito recalque. É uma preocupação muito mais com o bastidor, a vida pessoal. É o bom e velho sensacionalismo, mas na cultura parece que a preocupação é em chegar ao ponto fraco para mostrar o fundilho daquela pessoa. Tá muito mais focado na pessoa do que propriamente no que ela está fazendo(...)”


“(...) muitos, muitos mestres. Paulo Leminski,William Blake, Oscar Wilde, Victor Hugo, Morrissey, Ninjisnski, Peter Sellers, Henry Mancini, Fernando Pessoa...


[Mas aí você tá falando de gente extremamente talentosa. Mas que não necessariamente é um modelo de vida, de conduta, de visão.]
Essas pessoas que eu tô dizendo, quem quer que seja, eu não conheço. Então tomo como mestre quem eu imagino que eles são. Não que eu os crie, mas o que absorvo ali de ensinamento. O que você tá falando é outra coisa, aí digo que os meus mestres são os meus amigos. As pessoas que escolho como amigos são pessoas que admiro. Claro que todo mundo tem sua escrotice e, mesmo assim, essas pessoas não deixam de ser mestres em alguma coisa. Fabrizio é meu mestre, Pedro Sá é meu mestre, Moreno Veloso é meu mestre, Kassin é meu mestre, Caetano Veloso, Nilson Primitivo, Jorge Mautner e Karine Carvalho são meus mestres (...)”

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